Jesus e seus pais ...
"Se Jesus
tivesse nascido recentemente, estaria condenado à marginalização social pelos
esdrúxulos e absurdos hábitos de seus pais e a consequente maneira de sua
geração. Seu pai, arredio e ríspido, nunca fez amor com sua Mãe. Ela, ignorante
de sua própria natureza, jamais sentiu os vivificantes calores que incendiam o
equador e todos os hemisférios femininos no mágico ato da união de um casal.
Talvez tenha
sido alguma travessia da divindade. Uma das tantas picardias que nascem do âmago
individual quando a imaginação é fértil e as possibilidades são infindas. Este
fascinante poder latente na natureza humana e que também se expressa na volição
dos deuses.
Mas, mesmo sem
sabermos realmente qual conjuro evocaram os deuses para que o menino Jesus
nascesse, o que sabemos é o que sucedeu durante sua caminhada, a maneira como
ele transcendeu suas origens e o legado que deixou, pois...
Do ventre de
pais que nunca fizeram amor, ele amou tudo e todos com toda vontade que lhe era
permitida.
De pais que
nunca se uniram, ele preconizou a comunhão e a união entre os seres, os animais
e a natureza.
De pais rudes
e ignorantes, ele buscou e transbordou conhecimentos e sabedorias pelos caminhos
onde passou.
De pais
apáticos, ele foi ágil, hábil e prático em profícuas e inspiradoras ações.
De pais
sobreviventes, ele viveu intensamente e, foi mais além, mostrou que a vida é
mais do que o efêmero período existencial de apenas um corpo.
De pais
pobres, ele demonstrou as fortunas que emanam de uma essência prodígia e
volitiva.
De pais que
nunca foram pais, ele se tornou mãe e pai daqueles que coincidem com sua
pacífica, harmônica e sábia senda.
No acaso
destas imprevisíveis e fascinantes causas, quiçá os deuses ansiavam também por
dizer que, apesar dos filhos serem a imagem e semelhança dos pais, eles não são,
nem o pai, nem a mãe, nem a família e nem os herméticos conceitos sociais
prevalecentes no cantinho onde nascem.
Talvez veio
Jesus representar a irrevogável idéia de que cada nascer é uma nova realidade,
cada novo ser é um plenipotenciário oceano a ser revelado e manifestado e que,
independentemente de seus pais, cada indivíduo possui sua genuína, própria e
sublime caminhada. Sabemos que os deuses são pícaros, mas também reconhecemos
que suas pirraças têm sempre um objetivo sublime e evolutivo.
Cargnin dos Santos
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