A minha casa espiritual onde alberga a minha vida é constituída por
vários pisos, inúmeras divisões, umas mais amplas outras nem por
isso.
Algumas delas são escuras outras com janelas viradas para o mar, para as
montanhas, umas com muita luminosidade pelas suas enormes e envidraçadas
janelas.
Esta casa é composta por cave, 1º andar, 2º andar, 3º andar e sótão e
cada um destes andares representa os níveis da minha
vida.
Durante muito tempo escolhi viver na cave, fria e escura, sem janelas
para o exterior, sem brilho do sol e da lua. Nas paredes uma ausência de
espelhos para não ter a possibilidade de ver a minha imagem reflectida. Era uma
vida triste, sombria e solitária, escondia-me de mim e de
todos.
Sabia que os andares de cima eram bem mais atraentes, confortáveis e
proporcionavam uma vida bem mais motivadora.
Tive medo de tornar-me consciente de mim mesmo e aceitar-me tal e qual
como sou, tive medo de aceitar a mudança.
O trabalho a seguir foi bem duro, não foi um trabalho fácil, posso
garantir que foi doloroso e assustador.
Naqueles momentos pude reflectir, fiz uma auto-avaliação e comecei a
desprender-me de objectos, ideais, medos, crenças entre outras coisas
mais.
Mudei um pouco de imagem, é como se estivesse a limpar a casa, atirando
fora as peças que estavam partidas e identificar aquelas que estavam com muita
poeira se faziam ou não falta.
Mexi nas gavetas e nos armários da minha mente, era hora de desfazer-me
das coisas e entre elas, estavam pessoas incluídas com um enorme valor
sentimental, mas cheguei à conclusão que não fazia mais sentido, nem tinham
qualquer prática para a minha vida.
Admiti que não cabiam mais e nunca mais iriam caber, ao verificar que
guardava as mágoas e os medos como se fosse roupa suja e os montes eram
enormes.
Comecei a limpar o meu coração e abrir o caminho para o verdadeiro amor e
naquele instante percebi que ao viver na cave da casa da minha vida, jamais o
iria encontrar.
Subi para o primeiro andar e encontrei uma nova desarrumação, as divisões
mais amplas, mobília mais moderna, as cortinas das janelas corridas permitiam a
entrada de uma ténue luminosidade.
Encontrei tudo o que me ligava à minha infância, desenterrando a minha
auto-imagem que se escondia por debaixo das coisas que na infância me tinham
dado.
Quando me conheci um pouco, abri as cortinas e deixei entrar a luz da
verdade, expondo os meus medos e fantasias tal como eram, distorções e sombras
do passado.
Estava a verdade ali bem patente, deu para vislumbrar e
responsabilizar-me por ter permitido que a casa ficasse em tal desordem e tive
que assumir que eu era o único residente naquela casa e a única pessoa capaz de
arrumar toda aquela barafunda.
Mais do que nunca, tinha chegado a hora de pôr as mãos ao trabalho,
arregaçando as mangas e trabalhar a sério.
O segundo andar estava ali bem perto, a falta de coragem ainda me impedia
de subir até lá.
O trabalho consistia em livrar-me das cortinas velhas e desbotadas,
tapetes encardidos e móveis sem qualquer utilidade. Reconheci o custo de todos
os erros cometidos,
Mas nem por isso senti uma revolta ou procurei um culpado para toda
aquela trapalhada, eu fui o desorganizador da minha própria casa. Senti que
desperdicei muito tempo, despendi muita energia, mas no fundo eu sabia a
verdade.
A verdade é que ninguém tem culpa, todos fizemos ou tentámos fazer o
melhor e descobrimos que era preciso tornamo-nos mais fortes, sábios, dispostos
e prontos para fazer ainda melhor. Que sensação
maravilhosa!
Escolhi um novo padrão de vida, com novos estilos, cores e ao olhar em
volta percebi que já estava no terceiro andar na casa da minha vida e o que
temia na passagem para o segundo andar, tinha ficado para trás e era aquele o
patamar intermediário que serviria de passagem para o momento
actual.
Aqui onde me encontro é um lugar fantástico, cheio de luz e de cores,
finalmente consegui ver-me ao espelho, com uma clareza e extremamente feliz ao
descobrir que o trabalho tinha valido a pena e finalmente tinha chegado onde
sempre desejei estar. Este é um lugar de paz.
Sinto um orgulho de mim mesmo, sentindo até que estou preparado para
convidar os meus amigos a compartilhar comigo o que fui
aprendendo.
Muitos não gostaram da minha nova casa, não se sentiam bem ali mesmo e
acabaram por ir embora.
Mesmo assim aprendi que podiam mudar de ideias e um dia regressarem, mas
percebi que não fazia mais sentido, se não se sentiram bem na minha casa, não se
sentiam bem comigo mesmo. Outros amigos gostaram da minha nova casa, estava tão
diferente e todas aquelas bagunças simplesmente tinham
desaparecido.
Mesmo assim os poucos amigos que ficaram acabaram por ir embora e por mim
tudo bem!
Arrumei as pequenas bagunças que tinham criado e acreditei de coração que
ao manter a casa limpa, aqueles que vêm com amor ficarão residentes nesta casa.
Estes foram os sinais da minha mudança, eu tive que mudar e tornei-me bem mais
diferente, vivo sem medo.
Na verdade limpei o sótão e transformei-o no santuário do
amor.
Escolhi
toda a decoração, escolhi tudo o que fazer e passei a falar com mais
cuidado.
Abraços
e beijinhos.
José
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