Em cada pequeno gesto, em cada pessoa que se cruza no
nosso caminho, essa procura está sempre presente. Quando já temos tudo para
sermos felizes por vezes continuamos a sentir um vazio e reparamos que apenas
tivemos fugazes momentos ao longo do nosso percurso.
Então começamos a acreditar que ela nunca se vai cruzar connosco
nesta estrada da vida!
Tantas vezes desistimos porque pensamos já não ter paciência ou
tempo, e assim vamos continuando o nosso percurso sem felicidade nem
ânimo.
Tudo seria mais fácil se vendessem paciência nos hipermercados, nas
farmácias ou noutro lugar qualquer.
A vida seria mais calma se soubéssemos tomar a dose certa.
Irritávamo-nos menos nas filas de trânsito, no emprego, em casa, e talvez a tão
desejada tranquilidade vestida de felicidade viesse ao nosso encontro.
Quando todas as nossas prioridades acontecem e continuamos a
sentir um vazio que nos consome por dentro e não nos deixa sonhar, só temos dois
caminhos: ou nos acomodamos ou continuamos a nossa viagem por outras estradas
desconhecidas, incertas, mas que dariam um novo alento ao nosso sentir.
Nem
que para isso seja preciso recomeçar tudo de novo!
Deixar para trás uma vida em conjunto, bens materiais e
concluirmos que a felicidade não passa pelo outro, mas por nós. Só assim
seguiremos em direcção a ela, se acreditarmos que nunca é tarde para
recomeçar.
Quando gostamos de nós aprendemos a fazer o nosso caminho. Não
vamos correr mais atrás das borboletas mas cuidar o jardim que há dentro de
nós para que sejam elas a vir ao nosso encontro! De certeza que uma poisará
porque vai encontrar um jardim bem tratado: com carinho, amor e auto-estima. Se
assim não for nenhuma poisará por muito tempo. Todas levantarão voo porque se
sentem perdidas num jardim meio desnudado, sem flores a desabrochar, mas a
morrer em cada novo amanhecer.
Não é fácil recomeçar, nada fácil. Ficamos à
espera que tudo se recomponha, como se o tempo fosse o obreiro de todas as
obras.
Toda a minha vida corri atrás das borboletas esquecendo-me de
cuidar do meu jardim. Deixei murchar todas as flores, caíram todas as pétalas
até que já não havia uma única flor. Tinha dentro de mim um jardim de Inverno,
em que apenas os troncos estavam de pé e pelo chão pétalas sem vida.
A
borboleta que habitava esse jardim já não tinha vida. Há muito que o sobrevoava
como um fantasma. Ela tinha medo de perder o porto de abrigo, de procurar outro
jardim e eu tinha receio de não ter forças para semear novas flores.
Mas um dia num acto de loucura, lucidez ou coragem, achei que
este jardim ainda poderia ter vida, deixei tudo para trás e estou, sozinho,
a aprender a colocar novas sementes num jardim ainda desnudado.
Só
precisamos ter alguma paciência, não importa o momento em que nos cansamos, o
que importa é termos a coragem de recomeçar e fazer um novo fim!
Sem pressas vou caminhando, um pé a seguir ao outro, como uma
criança que dá os primeiros passos.
Tenho a consciência que há à minha frente
uma longa travessia num no deserto com algumas tempestades de areia! Só que não
posso nem quero voltar atrás. Se não que sentido teriam as lágrimas que
derramei? As lutas que travei? Os caminhos que desbravei?
Recomeçar de novo é dar uma nova hipótese a nós mesmos de
renovar o jardim que habita dentro de nós, aprender com os erros passados, mas
mais que renovar ou aprender é voltar a acreditar que temos futuro!
Uma porta se fechou e uma janela se abriu, a da tranquilidade,
da esperança, da força e vontade de viver. Há momentos em que o desânimo quer
entrar, mas tento não deixar! Porque este será apenas o início de um novo
caminhar. O caminho que escolhemos em busca da paz interior e do sonho
renovado.
O meu chá terminou, levanto a folha de papel em que escrevo e
observo o sol a esconder-se entre as nuvens, como nós fazemos tantas vezes na
nossa vida, escondemo-nos atrás de falsas realidades, de falsos muros que a
qualquer momento se desmoronam e ficamos perdidos, porque não soubemos saltar o
muro antes de ele cair e não tentámos uma nova vida do outro lado!
Mas o ser humano é assim mesmo, tem medo das mudanças - o
desconhecido assusta-o! Mesmo que seja para melhor. Mas como vamos saber o dia
de amanhã? Como saber o que é certo ou errado? Só arriscando...
só tentando.
Eu neste momento só tenho uma certeza: vou buscar uma nova
chávena de chá...
Abraços e
beijinhos.
José
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